Análise do texto “Feio, o gato”

O texto Feio, o gato mostra a história de um felino que, devido às adversidades da vida, sofrera danos que ocasionaram transformações irreparáveis em seu corpo, deixando-o com uma aparência muito feia. Algumas marcas como o fato dele ter apenas um olho, uma orelha, um toco de cauda, um defeito no pé esquerdo, resultado de uma vida difícil nas ruas, fizeram com que as pessoas não o vissem com bons olhos. Por isso, Feio era enxotado e maltratado por todos e, embora implorasse por amor, não o tinha,  pois ninguém se aproximava dele.

 Acontece que um dia Feio fora gravemente ferido pelos cães do vizinho e, após ser socorrido, não resistiu aos ferimentos e morreu. 

Narração x Argumentação

Ao analisar o texto, observa-se a predominância, inicialmente, de trechos  narrativos que conduzem o leitor aos fatos constituidores da história, com uma sequência cronológica marcada, sobretudo, pelos tempos verbais, advérbios e conjunções. No trecho “Quando eu o apanhava no colo, ele imediatamente começava a sugar minha blusa, orelhas, ou o que encontrasse pela frente”, pode-se perceber, na flexão dos verbos, além de outras marcas lingüísticas (quando, imediatamente),  uma série de ações caracterizando sequências tipológicas narrativas. Além do tempo já destacado, o texto apresenta fatos que ocorrem  em um espaço envolvendo determinadas personagens. Verificam-se ainda mudanças nesses fatos, relações de anterioridade e posterioridade, causa e efeito, como pode ser evidenciado, por exemplo, nessa parte que diz: “Um dia, Feio quis dividir seu amor com os huskies do vizinho. Eles não eram amistosos e Feio foi ferido gravemente. Do meu apartamento, ouvi seus gritos e corri para tentar ajudá-lo”.

Embora a  argumentação  permeie todo o texto, torna-se mais evidente  após a morte do gato, momento em que a autora começa a expor suas idéias, sua visão de mundo de forma mais explícita e tenta convencer o leitor sobre a validade de seus pontos de vista. A segunda parte do texto objetiva convencer o interlocutor sobre a verdade dessas idéias conforme defende a autora no seguinte trecho: “Se vocês pudessem avaliar ou sentir como é quente e gostoso o abraço de alguém feio e antipático… Se vocês se permitissem essa sensação, talvez entenderiam  e veriam os tantos “gatos feios” que a vida lhes coloca diante dos seus olhos todos os dias e vocês se negam a enxergá-los…”. A intenção de convencimento, de fazer com que o leitor acredite,  considere o que é dito, mostra-se clara nos argumentos apresentados.

Intergenericidade x Intertextualidade

A mescla entre as sequências tipológicas que compõem o  texto não é a única mistura que ocorre na sua produção. Essa mistura também acontece entre gêneros, seja quanto à forma composicional, ao conteúdo temático ou ao estilo. Isso ocorre por causa da flexibilidade dos gêneros que têm a capacidade de adaptação a toda e qualquer situação sociocomunicativa. A essa flexibilidade, alguns autores denominam de intertextualidade entre gêneros ou intergenericidade.

No caso do texto em estudo, Feio, o gato, observa-se que quanto ao tema, o próprio título já remete o leitor ao clássico de Andersen, O patinho feio, que também precisava de afeto, de carinho, mas por ser diferente não era aceito pelos demais seres da sua espécie. Uma diferença que pode ser apontada é que no final, o patinho feio consegue ser feliz por ter sido reconhecido pelos seus pares, ou seja, pelos cisnes, enquanto Feio teve um final trágico não conseguindo a aceitação, nem receber o carinho que tanto precisava.  A intertextualidade, nesse caso, caracteriza-se como a presença de outras vozes no texto, como o diálogo que se estabelece entre esses dois textos.

O propósito comunicativo da autora fez com que esta mesclasse diferentes gêneros resultando na intergenericidade. Diante disso, verifica-se que os gêneros não acatam uma classificação prévia, mas se realizam e se classificam segundo uma dada situação sociocomunicativa. Em Feio, o gato estão presentes traços característicos do conto na primeira parte do texto (narrativa linear, breve, com um só drama, um só conflito, uma única ação), enquanto na segunda parte predominam sequências do texto de opinião (exposição de idéias, presença de sequências argumentativas com intenção de convencer seus interlocutores).

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